Programa Senhora do Sol - Bom Despacho/MG

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URUBUS E NATAL

por Geraldo Mota - dezembro de 2001
geraldo_mota@yahoo.com.br

Oi pessoal, é dia de Natal, estava voltando de Bom Despacho, só,
depois de uma visita fugaz, quando por volta de cinco e meia, deparei com uma
cena curiosa. Não sei se vocês já notaram, mas um pouco depois do Roda D’Água,
no topo de uma colina, sempre se reúnem urubus, quiçá por motivos particulares.

Nesta tarde, porém, ao lado esquerdo da rodovia, estavam vários bípedes
negros, impecavelmente bem vestidos, inertes sobre os mourões da cerca, um em
cada mourão; estáticos, pareciam olhar o trânsito que lhes compunha o
horizonte. Logo pensei no Ítalo, - (calma) - por causa do time dele; no Bruno
Carazza, por causa da música “ Manguetown”, do Chico Science, que ele gosta.

Bem, contudo, no mesmo instante, percebi que a arquitetura e a engenharia da
natureza se exibia, pois, no céu, sob as nuvens cinzas, claras, azuladas,
outros urubus planavam em círculos, como um redemoinho de vento levantando
folhas negras, mas em velocidade reduzida. Uma passagem de um pincel sobre a
tela, com cuidado, para não sujar os outros matizes. E noutra parte do quadro
divino, um bando de garças atravessava, retilineamente, em seu vôo também
compassado; naturalmente de forma triangular. Aí pensei no meu time, o
alve-negro, só para contrariar o Ítalo, afinal ali estavam o preto e o branco,
ambos magistralmente no saborear vespertino, não havia disputa por espaço,
pois deles é o firmamento.

Entretanto, parecia faltar alguma coisa naquela paisagem, apesar de belíssima,
na qual havia também as montanhas de Minas e o verde dos campos. Eis que surge
em direção contrária à das garças, ao fundo, para dar um toque final, uma nave,
que reluzia com os raios do sol, vinha do lado direito da rodovia, parecia
até estática diante do infinito, era a mão humana presente, um avião, dos
grandes, daqueles que a gente olha com facilidade. Então, com sua cor de
alumínio predominante, tinha na frente e na calda listras vermelhas, de um
vermelho forte, igual a urucum, cruzou o céu colorindo-o ainda mais.

Ouvia no rádio do carro um rock, mas por obra do destino, ou não, mudei de
rádio e estava tocando uma música do Gonzaguinha, aquela que diz: “ Ele tomou
um banho n’água fresca, no lindo lago do amor...”, logo percebi que aqueles
ocupantes do espaço também estavam tomando seu banho de água fresca, vez que
dia de natal é dia de garoa.

Portanto, como disse o Fernando Pessoa, devemos observar mais a natureza. Não
olhar apenas para a limitada circunferência de nossas lentes.

Para aqueles que não gostaram desse quadro, paciência, pois conforme disse
Kant : “ o belo é particular” . A montanha não é a mesma para o alpinista e
para o geólogo.

ObsApesar de ver tal beleza, mantive sempre a atenção no trânsito, caso
algum engraçadinho venha pensar em advertir-me. Foi ótima a noite de Natal em
BD, estou muito feliz por ter tão grande número de pessoas maravilhosas com
quem convivo.

Seria esse o “espírito do Natal”?

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