Na minha opinião, a vinda do Escritório
da Estrada de Ferro Paracatu concedeu à Vila
de Bom Despacho uma importância regional naquela
época. Em 11 de outubro de 1925, em artigo do
jornal “O Bom Despacho”, Nicolau Teixeira
Neto escreve sobre o Escritório Central da Estrada
de Ferro Paracatu: ‘Depois de alguns meses de
trabalho intenso, está finalmente terminada a
grande esplanada para as oficinas e escritórios
da Estrada de Ferro Paracatu. Mais de 20.000m2 é
a área calculada, onde ficarão alojados
com relativo conforto, todos os departamentos da administração
da futura e já bem desenvolvida via férrea
do Noroeste Mineiro. (...) é um Bom Despacho
novo que nasce e cresce dia a dia robustecido por esta
seiva nova e bendita do trabalho, da arte e do bom gosto.(...)’
A construção da ferrovia seguiu seu curso
normalmente, inaugurando sucessivamente vários
trechos e estações. A de Dores do Indaiá
foi inaugurada em 1922 e em 1925 a de Melo Viana. Em
1927, ao atingir a Serra da Saudade, constatou-se que,
dada a topografia local, a construção
deste trecho seria muito onerosa, pois exigiria a abertura
de inúmeros túneis e grande movimentação
de terra.
Como a situação financeira, tanto do estado,
quanto das ferrovias mineiras, não era boa, cresce
no âmbito governamental a idéia de se unificar
as administrações das companhias ferroviárias
atuantes no estado. Cabe aqui ressaltar, que vários
fatores contribuíam para o agravamento da crise,
entre eles estavam a multiplicidade de bitolas, a preferência
pelos traçados sinuosos (mais dispendiosos para
o governo, porém mais rentáveis para as
empresas, que ganhavam por quilometragem) e a própria
concorrência entre as ferrovias. Desta forma os
serviços prestados iam sofrendo um processo de
degradação contínua.
Após a quebra da Bolsa de Nova York, em 1929,
a crise capitalista atinge o Brasil e também
a esfera ferroviária. Com a produtividade em
baixa, o escoamento das mercadorias diminuiu, prejudicando
o faturamento das empresas.
Unificação das Estradas de Ferro:
R.M.V.
Em 1931, foi feito pelo Governo Federal um contrato
com o Governo de Minas Gerais para o arrendamento da
Estrada de Ferro Oeste de Minas. Ficou resolvido que
a Oeste seria, como já estava sendo, explorada
técnica e financeiramente, dentro de um aglomerado
que englobaria três ferrovias: além da
própria Oeste de Minas, a Estrada de Ferro Paracatu
e a Rede de Viação Sul Mineira. A esta
união deu-se a denominação de Rede
Mineira de Viação. Com isso, Estrada de
Ferro Paracatu se tornou Ramal de Paracatu, iniciando-se
em Azurita e terminando em Barra do Funchal. Mesmo assim,
as obras continuaram e, em 24 de abril de 1937 foi aberta
ao tráfego o trecho entre Melo Viana e a estação
de Barra do Funchal. Este trecho seria o último
a ser concluído, pois devido à variados
fatores, a construção da ferrovia foi
interrompida neste ponto, para nunca mais ser retomada.
Em 1957, o processo de federalização ferroviária
no Brasil se consolidou com a formação
da Rede Ferroviária Federal S. A – RFFSA,
que encampou, entre outras, a Rede Mineira de Viação.
A Estação Ferroviária de Bom Despacho
funcionou por vários anos atuando no transporte
de cargas mas, principalmente, no embarque e desembarque
de passageiros. Mesmo com a interrupção
da construção da linha férrea,
o trecho correspondente ao Ramal Paracatu continuou
a ser muito utilizado e por ele passavam centenas de
passageiros e cargas variadas.
Nova Estação
Na década de 60, a antiga estação,
de arquitetura representativa das construções
ferroviárias do início do século
XX, foi derrubada para dar lugar ao atual prédio
da estação. Esse, construído de
acordo com o repertório formal moderno. Assim,
a cobertura em duas águas anterior deu lugar
à laje plana. Sobre a plataforma, o telhado cerâmico
sustentado por mãos francesas, foi substituído
por laje em balanço.
A circulação de locomotivas pela nova
Estação de Bom Despacho continuou acontecendo,
a despeito da decadência do transporte ferroviário
no Brasil. Pela estação, passaram várias
máquinas movidas a vapor, dentre elas a Maria
Fumaça, que hoje se encontra estacionada na plataforma
aos cuidados do Sr. Manoel Werneck, ex-ferroviário
em Bom Despacho.
A Estrada de Ferro Paracatu não atingiu o objetivo
de chegar à Serra das Araras, na divisa de Minas
com Goiás. Portanto, foi de extrema importância
para o desenvolvimento urbano, social, político,
econômico e cultural do município. Para
citar um exemplo, vários congadeiros chegaram
ao município através da estrada de ferro.
O
Tombamento da Maria Fumaça e Praça da
Estação
Foi
pensando nessa importância que o Conselho Municipal
de Patrimônio Cultural, presidido por Nicozina
Campos, em acordo com os 24 conselheiros e prefeito
municipal, indicaram como bens culturais com interesse
de preservação municipal a Praça
Olegário Maciel e a Maria Fumaça. Através
dos decretos Nº 2583/03 e Nº 2582/03 respectivamente,
foram tombados na esfera municipal. Existe ainda na
esfera federal, a lei nº 10.413/02 que determina
que o acervo ferroviário passa a integrar o acervo
histórico e artístico da União.
Com isso, proteger e zelar pelo acervo ferroviário
deveria ser prioridade também no Legislativo
municipal.
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